Novo Kia Cerato é carro demais com motor de menos
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Novo Cerato é bonito, completo, confortável e até silencioso; só faltou um motor de 2 litros
UOL Carros, como muitos de seus leitores, se
surpreendeu com a terceira geração do sedã Cerato desde sua revelação no
Salão de São Paulo, em outubro de 2012. Peter Schreyer, chefe de design
(e agora também presidente-executivo) da Kia, pesou a mão no melhor dos
sentidos e fez um dos modelos mais interessantes da marca e também do
segmento de sedãs médios.
Os detalhes estéticos, assim como pacotes de equipamentos e preços,
foram apresentados no lançamento oficial do carro, neste domingo (7).
Restava saber como ele anda, dúvida eliminada após um test-drive de 95
quilômetros, primeiro como motorista, depois como passageiro, realizado
na Bahia nesta segunda (8).
Com corpo mais leve e esguio, o novo Cerato foi projetado para andar
forte, ligeiro como um felino. Mas, claro, músculos de atleta não se
movem sem impulso forte de um coração de atleta. É exatamente este o
problema do carro que chega agora ao Brasil. No resto do mundo, o novo
Cerato mais barato (LX) é equipado com motor 4-cilindros de 1,8 litro e
150 cavalos, injeção multiponto e 18 kgfm de torque. O mais completo
(EX) usa uma das obra-primas do grupo Hyundai-Kia, o motor de 2 litro
GDI, com injeção direta de gasolina, capaz de gerar 175 cavalos com
robustos 21 kgfm de torque, que surgem numa faixa intermediária de
aceleração (4.500 rpm).
Qualquer um deles daria conta da concorrência que o Cerato encara no
Brasil: Toyota Corolla, Honda Civic, Chevrolet Cruze, Volkswagen Jetta e
Renault Fluence, entre outros, todos com motores de 1,8 ou 2 litros,
câmbios que variam entre arcaicos automáticos de quatro marchas e
modernos automatizados de dupla embreagem e seis marchas, flex ou só a
gasolina.
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O Cerato 2014 em detalhes13 fotos
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Caimento
suave do teto e vidro traseiro bastante inclinado dão aspecto
"acupezado" ao novo Cerato, algo bastante comum nos três-volumes atuais
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Acontece que a Kia, por vontade própria ou imposição da dona Hyundai
(nenhum executivo da representação brasileira da marca admite isso, mas
UOL Carros
não pode deixar de considerar a hipótese), acredita que seu carro 1)
precisa do emblema "Flex" na tampa do porta-malas para ir bem no mercado
brasileiro; 2) não pode, neste momento, contar com um bloco maior, por
exemplo, o mesmo bicombustível de 2 litros que o Elantra passa a usar
(daí a consideração acima).
A ideia, talvez, seja fazer um "combinado coreano" no Brasil: a Kia
vende um hatch com motor de 2 litros (o Cerato dois-volumes com esta
motorização deve desembarcar em breve, promete a representação
brasileira), mas o sedã apenas com motor de 1,6 litro, enquanto a
Hyundai "inverte" a estratégia, vendendo seu i30 com o motor de 1,6
litro e o Elantra com o motor maior (repetimos, trata-se sempre dos
mesmos motores).
Pode haver concorrência (e até brigas, como já aconteceu via anúncios
de jornal) entre as marcas no Brasil, mas a origem é uma só: a matriz
coreana, onde tudo nasce, quer crescer conjuntamente para ampliar sua
participação global (o grupo Kia-Hyundai se orgulha de ter ultrapassado
Fiat e Renault nas vendas mundiais em 2012).
CONFORTO, TEM
Oficialmente, a Kia do Brasil afirma que o motor GDI ainda não poderia
ser usado com o combustível local. Então, na soma das impossibilidades,
temos um sedã médio de até 1.205 quilos (chegando a 1.800 kg com carga
total, de passageiros, fluidos e bagagens) sendo movimentado por um
motor que é bom, bem gerido, mas que entrega apenas 128 cv e 16,5 kgfm
de torque a altos 5.000 giros. Sobraria num carro menor, no Hyundai
HB20S de quase 1.100 kg, por exemplo, mas falta no médio da Kia. Não há
mágica.
Claro, os câmbios de seis marchas (tanto manual, quanto automático)
tornam o Cerato um carro ágil e até certo ponto econômico em situações
urbanas, de trânsito mais carregado e velocidades baixas. Neste momento,
o que conta são os bons-tratos com o condutor. Mesmo na versão de
entrada brasileira (a E.244), há plásticos emborrachados, insertos de
couro aqui (volante, apoio de braço na porta e após o câmbio) e ali
(arco de cobertura do painel de instrumentos), um volante de boa pegada e
uso interessante das teclas multifunção (que comandam do som ao
computador de bordo e sistema de condução e firmeza da direção,
ajustável entre "comfort", "normal" e "sport"), que tornam a vida do
motorista fácil.
A posição proporcionada pelo banco (com ajuste elétrico de lombar no
carro básico; acertos totalmente elétricos no top) é bem próxima ao
solo, emulando uma tocada esportiva. No Cerato mais caro, aletas de
trocas no volante ampliam esta sensação. E, apesar do tamanho inferior
ao do Cruze, por exemplo, não há o aperto de joelhos sentido no carro da
General Motors.
Para os passageiros, porém, a vida a bordo é um pouco menos glamourosa.
Para o carona, há a opção de ar-condicionado de duas zonas e também de
contar com plásticos emborrachados onde a mão encosta -- nada, porém, de
ajustes extras no assento. Quem vai atrás nunca vai reclamar de espaço
para cabeça, ombros, joelhos... há um latifúndio ali. Mas não encontrará
um centímetro sequer de plastico emborrachado e terá inveja até do
brilho dos painéis de quem viaja à frente; algo bem curioso, que cria
quase uma "classe econômica" em termos de acabamento.
Os equipamentos também foram pensados para a vida urbana, com sensores
dianteiro e traseiro de estacionamento, útil nas vagas apertadas, faróis
e lanternas com LEDs, além de faróis de neblina com luzes de curva --
tudo para impressionar vizinhos e outros motoristas (além de ampliar a
segurança de pedestres e no período noturno); parassóis ampliáveis com
espelhos de cortesia e iluminação e até porta-óculos, item nem tão
fundamental, mas mimo interessante.
Falta, porém, uma oferta maior de airbags, ao menos na versão mais cara
(há sempre os dois regulamentares e mínimos num carro de mais de R$ 70
mil), além de uso da eletrônica de segurança para além do sistema
antiblocante dos freios (ABS): controle de tração ou de estabilidade
fazem falta na lista itens.
DISPOSIÇÃO, NEM TANTO
Assim como falta, também, uma maior disposição nas viagens rodoviárias.
E aqui voltamos à falta de fôlego do motor pequeno, de 1,6 litro. E sem
fôlego, não tem jeito: o Cerato parece um tigre pronto a rugir, mas
acaba ficando rouco de tanto gritar na estrada. Não é culpa do
isolamento acústico, que é bom a ponto de filtrar o ruído de outros
carros e do que acontece na calçada. Mas do motor, que é obrigado a
trabalhar ruidosamente. É possível ter um bom rendimento andando num
ritmo mais forçado, optando por marchas menores e giros mais altos,
sobretudo em retomadas, ultrapassagens e ao encarar subidas, tendo o
modelo com câmbio manual -- ou talvez com o modo de trocas sequencial do
câmbio automático e alguma perícia.
Mas quem quer vida mansa, deixando o câmbio automático fazer todo o
serviço (e boa parte da clientela de sedãs médios quer exatamente isso, o
que é justo), verá uma caixa que parece indecisa de tanto trabalho que
tem para achar sempre a rotação correta para um motor que não está dando
conta do recado.
No final, a impressão é uma só: o Cerato é carro demais com motor de
menos. É até "sorte" o consumo indicado pelo computador de bordo (do
carro manual) ter ficado na média de 8,1 km/l de etanol, justificando a
medição do Inmetro (nota A para o carro com câmbio manual, B para o
automático). Com tanto ruído e indecisão, essa marca poderia ter ainda
sido pior.
Vou de Fusion 2.0 Ecoboost que, a propósito, agradece a concorrência ...
Vi o Optima e adorei o desenho exterior dele. É muito agressivo e imponente. Os poréns: Não tem central multimídia, o que é inaceitável para a Kia (culpa do importador, que faz o pacote sob encomenda). Digo o mesmo ao Cerato: O Gandino traz faróis de LED que custam mais caro do que um ESP ou airbags laterais. É um absurdo um importador ainda vender seu produto pelo preço e qualidade de um importado, quando é inferior a muitos produtos do Mercosul.